À medida que o dia avançava


"Quase sempre soprava um vento brando à medida que o dia avançava; recolhíamos então as nossas redes de dormir, içávamos todas as velas e a embarcação deslizava rio abaixo animadamente. Pena preferia que o almoço fosse preparado em terra quando não havia vento, ou este era muto fraco. Por volta de meio-dia procurávamos um recanto calmo na beira da mata, onde houvesse uma clareira suficiente para nela acendermos fogo. Eu dispunha então de uma hora para caçar nas vizinhanças, sendo quase sempre recompensado com a descoberta de novas espécies. Entretanto, durante a maior parte de nossa viagem parávamos na casa de algum colono, armando a nossa fogueira no seu embarcadouro. Antes do almoço era nosso hábito tomar banho no rio, e em seguida, de acordo com um costume generalizado no Amazonas - onde com efeito parece justificado, tendo em vista a pobre dieta de peixe da região - cada um de nós tomava meia caneca de cachaça, como aperitivo; finalmente acomodavamo-nos para saborear a refeição, composta de ensopado de pirarucu, feijão e torresmos. Uma ou duas vezes por semana comíamos galinha, ou outra ave qualquer, e arroz; ao jantar, depois que o sol se punha, sempre tínhamos peixe fresco, pescado à tardinha pelos nossos homens. As manhãs eram frescas e agradáveis até o meio-dia, mas à tarde o calor se tornava insuportável, principalmente quando o tempo estava nublado e ameaçando tempestade, o que acontecia com frequência. Nessas horas ficávamos acocorados à sombra das velas, ou nos estirávamos nas nossas redes dentro da cabina, preferindo ficar confinados ali a nos expormos ao intolerável calor do sol no convés. Geralmente interrompíamos a viagem por volta das nove horas, escolhendo um lugar seguro onde atracar o barco para a noite. As frescas horas do crepúsculo eram agradabilíssimas; bandos de patos selvagens (Anas autumnalis), de papagaios e araras de voz roufenha passavam voando aos pares, de volta aos seus abrigos, enquanto o sol mergulhava abruptamente no horizonte. Começava então o breve coro dos animais da floresta à hora do crepúsculo, no qual ressaltavam os macacos uivadores, cujos gritos apavorantes e sobrenaturais exacerbavam a sensação de solidão que nos assaltava à medida que as trevas se tornavam mais profundas. Logo depois, os pirilampos apareciam em grande variedade, pisca-piscando no meio das árvores. Quando a noite descia completamente, tudo silenciava no meio da mata, à exceção do coaxar ocasional das rãs arborícolas ou do monótono cricrilar de grilos e gafanhotos". Henry Walter Bates. (1825-1892). Um naturalista no Rio Amazonas. 1979. p. 112.


Selva.
 Peyritsch, J. J. ; Schott, H. W. Aroideae Maximilianae. 1879.
Desenho de Josef Selleney
www.plantillustrations.org

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