Um verdadeiro temporal


"[...]. Estando o dia abrasador, a atmosfera baixa e nuvens carregadas para o S ameaçando mudança de tempo, pelas 3 horas da tarde dirigi-me para Itaituba. Depois de uma hora de viagem começou a soprar o vento, que crescendo sempre, encapelou as águas, que a custo podia a força de dois remos rompe-las. Sobrevindo depois chuva, acompanhada de repetidos relâmpagos e trovões, formou-se um verdadeiro temporal, acompanhado de furacões, que me obrigou a arribar a uma praia, com grande dificuldade, já molhado não só pela chuva como pela água que entrava na canoa ocasionada pela quebra das vagas de encontro ao seu costado. Então, tive ocasião de observar o temporal sem risco de vida, um dos maiores que costumam assolar essa paragem. A chuva cessara. O vento mugia pela floresta, levando ante si inúmeras folhas, flores e galhos; as águas encapeladas pareciam refletir com rapidez; o ruído da chuva e dos trovões era aterrador, entretanto o sol estava fora, a tarde clara, e só grossas nuvens corriam pelo horizonte de S. para N.
Era um espetáculo soberbo, que se me oferecia, e que ainda não tinha observado.
Cinco minutos durou essa revolução dos elementos, correndo depois para S.O. todo o temporal. Cessando o vento começaram as águas a aplainarem-se dando-me lugar a seguir viagem, procurando sempre a margem. Pelas 6 horas, depois de lutar muito com a corrente que ainda sentia-se do temporal, cheguei a Itaituba, onde o vento tinha feito garrar algumas montarias, canoas de cachoeira e atirado com outras para terra.
No dia seguinte, ao alvorecer, tomei a direção da mata que fica à esquerda da vila, onde encontrei muitas Maximilianas regias  e uma variedade de Bactris macroacantha de porte menor, que estava com frutos verdes. Próximo a um lago que aí há coberto de aninga, encontrei alguns pés de Symphonia (seringueiras) e de Dipterix odorata (cumarú) que estavam também com frutos. Estes servem de alimento aos morcegos, que comem a polpa do mesocarpo e abandonam o resto. [...]". João Barbosa Rodrigues (1842-1909). Exploração e estudo do Valle do Amazonas: Rio Tapajós. 1875. p. 70-71.


Montrichardia arborescens.
Curtis´s Botanical Magazine. v. 128, t. 7817. 1902.
Desenho de M. Smith.
www.plantillustrations.org

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