O dia vem nascendo


"[...]. No céu azul, o disco redondo e branco da lua evocava o luar do sertão. Do lado baixo do igarapé, das ventarolas dos miritizeiros, vinham vozes de aves noturnas, jacurutús e  corujas. Dos campos também subiam trinados, rufos de tambores, remadas vivas de quem aporfia. Eram os sapos. Até que a maria-já-é-dia, num primeiro grito, anunciava o sol. Uma nesga cor de opala com frisos de carmim rasgou o oriente. As saracuras, em seguida, reforçaram o alarme. Era mesmo o carro do sol que vinha estrondando no fogo de mil chamas. O quadrante se avermelhava. Aqui, ali, acolá, rebentavam brochadas escarlates, sangue puro do céu. Todos se sentaram nas redes.
-Dia vem rinchando, gente. Aquele três potes! Três potes! três potes! das saracuras não enganam ninguém. [...]". Raimundo Morais (1872-1941). O mirante do baixo Amazonas. [s.d.]. p. 71-72.
 
 
Saracuras.
Álbum de Aves amazônicas -1900-1906
Desenho de Ernst Lohse (1873-1930)
 


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