Viajantes: Uirapuru


"Havia um passarinho que me interessou extremamente pelo seu canto, embora eu não tenha conseguido vê-lo. Chamam-no de uirapuru, palavra que significa "ave pintada", e me informaram que ele é do tamanho de um pardal. O Senhor Bentes me havia dito que eu certamente iria escuta-lo perto das cachoeiras, acrescentando que "ele entoa cantigas de todo o mundo, como se fosse uma caixinha de música". Escutei essa mesma afirmação da boca de várias outras pessoas, e de fato, durante um dia inteiro, logo depois do meio-dia - a hora em que os pássaros e as feras são mais silenciosas - tive finalmente o prazer de ouvi-lo cantar, bem perto de onde eu me encontrava. Não havia como confundir seu gorjeio de notas claras como o som de um sino, que ele sabia modular habilmente, como se sua garganta fosse um instrumento musical. Suas "frases" eram curtas, mas cada qual incluía todas as notas do diapasão. Depois de repetir uma frase por cerca de vinte vezes, ele de repente executava outra - eventualmente subindo cinco tons - repetindo-a o mesmo tanto de vezes. Normalmente, porém, ele fazia uma breve pausa antes de mudar de tema. [...].
A melodia singela, executada nas profundezas da mata virgem por um músico invisível, conferia àquele momento de um caráter de mistério, e me manteve enfeitiçado por quase uma hora, até que subitamente foi interrompida, para pouco depois ser reiniciada bem longe dali, numa distância tal, que o som só chegava a meus ouvidos como se não passasse de um débil tilintar [...]". Richard Spruce (1817-1893). Notas de um botânico na Amazônia. 2006, p. 98.
 
 
 
Uirapuru-verdadeiro (Cyphorhinus aradus)
Ilustração de Antônio Martins. Brasil 500 pássaros. 2000.


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