Viajantes: Mata virgem!


"Com a aproximação da noite, a mata começava a animar-se. Da crista do arvoredo mais alto, onde, aos raios do sol, sazonam frutos e se abrem as corolas perfumosas, desciam bandos de macacos e esfuziava a passarinhada em busca de seus ninhos. É que a natureza amazônica reproduz os jardins suspensos de Semíramis. A muitos metros do solo, as frondes portentosas tecem-se num vergel florido que atrai, durante o dia todos os habitantes da floresta. Assim, enquanto no recesso da mata tudo é silêncio e obscuridade, vai lá por cima uma agitação constante. São ramos que verga ao peso dos animais: araras e tucanos que tricolejam sementes duras; flores que se esfarfalham tocadas pelos beija-flores; gritos agudos, chilreados álacres; frêmitos de asas, ruge-ruge de penas... A noite, porém, traz a transmutação do cenário. Povoa-se o sobosque em detrimento do dossel de verdura. A bicharada baixa a seus esconderijos:  estalidam galhos, sombras esgueiram-se na meia luz do crepúsculo. As aves aconchegam-se entre a folhagem. Era o que eu observava agora, ouvindo ao longe o coro triste dos guaribas, concertando com as outras muitas vozes que me cercavam: pios flébeis, chilidos, assobios, e até o rechino de algumas cigarras e a coaxação dos primeiros sapos". Gastão Cruls (1888-1959). A Amazônia misteriosa.  6. ed. 1953, p. 29. 
 
 
Mata virgem..
 Peyritsch, Johann Joseph. 1879.


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