Viajantes: Corujas


"As corujas, especialmente as noturnas, sempre inspiraram ao povo uma repulsão mesclada de terror.
O aspecto de seus olhos arregalados, orlados de olheiras penugentas, parece revelar uma vida de orgias noturnas, de noitadas gastas em diabólicos "sabbats".
O costume, que algumas espécies têm, de habitar as torres de igrejas, os cemitérios, as taperas, as casas meio desmoronadas, o oco das gameleiras, onde a imaginação popular assegura ser o pouso favorito do caapora, aumenta ainda mais o terror dos supersticiosos.
E como se tudo isso ainda não bastasse, a sua voz possui entonações macabras, soa aos ouvidos pávidos como gargalhar de duendes.
Ao ouvir-lhe a sardônica risada, ora ululante, ora áspera, as mães acingem ao peito os filhinhos amedrontados, e as velhas lançam ex conjuros para o silêncio da noite.
É evidente um gasto inútil de pavores. Pobres corujas! Ao saírem de seus refúgios, onde cochilam gostosamente durante o dia, como é seu hábito, elas saúdam a beleza da noite crivada de estrelas.
O que nós supomos, pois um gargalhar sinistro, não é mais que um hino entoado ao esplendor da noite, num testemunho de sua grande alegria e tornar a ver, lá no céu o mesmo rebanho de estrelas, que talvez se lhe afigure um bando de insetos trêfegos e luminosos [...]". Eurico Santos. Da ema ao beija-flor. 1952, p. 217-218.
 
 
Corujas
Ilustração de Ernst Lohse (1873-1930)
Álbum de Aves Amazônicas do Dr. Emílio A. Goeldi. 1900-1906.
 

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